CARTA ABERTA A ALGUNS (MUITOS) RADIOAMADORES

Recebi do colega Daniel Leitão, estação CB “Micróbio” e indicativo de amador CT2GXZ, com pedido de publicação, um artigo de opinião cujo tema tem como fundo, o estado actual das radiocomunicações ditas amadoras. Obviamente, eu, Luís Forra, estação CB “Dakota Bravo” e indicativo de amador CT1BAS, subscrevo e aplaudo o conteúdo do que o Daniel produziu. Conhecendo-o há perto de quinze anos e tendo acompanhado o seu percurso de amador de radiocomunicação deste então, calculo o desânimo e frustração que sente neste momento, levando-o a escrever o que escreveu (e muito bem).
É precisamente o mesmo estado de espírito que eu senti, há alguns anos, quando conclui que tinha vergonha de ser radioamador. Escrevi muitos artigos de opinião sobre o tema, que estão publicados, dando a conhecer a minha revolta, repúdio e indignação pela mentira que é o convívio entre utilizadores das bandas amadoras. Abandonei as bandas amadoras por concluir que não é lá que existe o verdadeiro conceito de QSO. Apesar do abandono, mantenho operativos os equipamentos, estabelecendo esporádicos contactos com colegas amigos que estão sintonizados com o mesmo espírito
Também não é lá (nem em parte nenhuma), que se pratica o Decálogo do radioamador que transcrevo para quem não o conhece:

1º O Amador de Radiocomunicações põe os seus conhecimentos técnicos e a sua estação ao serviço da sua Pátria;
2º O Amador de Radiocomunicações aperfeiçoa constantemente a sua estação de maneira a mantê-la a par das mais recentes descobertas da ciência e da tecnologia;
3º O Amador de Radiocomunicações é disciplinado e por isso nunca, conscientemente, afecta os princípios estabelecidos na Lei;
4º O Amador de Radiocomunicações é gentil e não interfere propositadamente os seus colegas;
5º O Amador de Radiocomunicações é leal em todas as suas acções;
6º O Amador de Radiocomunicações é sincero e dá sempre um controlo exacto ainda que seja o pior possível, e ao seu melhor amigo;
7º O Amador de Radiocomunicações é camarada e está sempre disposto a auxiliar os seus colegas mais novos e inexperientes;
8º O Amador de Radiocomunicações é razoável e limita o tempo dos seus QSO's (comunicados). As frequências muitas vezes estão congestionadas há outros que estão à espera;
9º O Amador de Radiocomunicações é equilibrado e não coloca os assuntos da rádio acima das suas ocupações normais ou da sua família;
10º O Amador de Radiocomunicações não esquece em momento algum que a sua voz, a Voz de Portugal, está no ar e pode ser ouvida nos quatro cantos do Mundo onde a Pátria Portuguesa só pode ser engrandecida.

Com os actuais valores morais e cívicos, não só da maioria do radioamadorísmo português, como da sociedade em que vivemos, o que acima está transcrito não passa de 10 utópicas banalidades. Provado está que ninguém as pratica, chamo a especial atenção para a hipocrisia existente nos pontos 4º e 7º considerando a “cotação” do actual espírito radiofónico amadorístico.
Não esquecer que estes conceitos estão totalmente desfasados e desactualizados. Acredito piamente que no seu tempo foram cumpridos e eram naturalmente praticadas por todos os radioamadores da época. Foram escritas em 1928 por um radioamador norte-americano chamado Paul M. Segal.

Os conceitos hierárquicos e o caciquismo herdados dos velhos tempos do Estado Novo, ainda estão presentes no íntimo de muitos radioamadores da “válvula”, influenciando a forma de estar na vida e convívio com demais colegas, não só em frequência mas também pessoalmente.
Nesses tempos, para se fazer exame para obter uma carta de radioamador, era obrigatório estar filiado na Rede dos Emissores Portugueses (REP) e a polícia política (PIDE e mais tarde DGS) passava a pente fino a vida passada e presente do candidato. Este estado de coisas e esta ambiência marcou, indelevelmente, todos os que, nesses tempos, se “formaram” como radioamadores influenciando, para sempre, toda a sua conduta excessivamente elitista e prepotente. Não havia hipótese ao contraditório ou à diferença.
Quando em 1978, a Banda do Cidadão foi legalizada em Portugal, começou-se a perspectivar, a médio prazo, uma tentativa de queda de alguns tabus existentes nos hábitos dos radioamadores. Alguns cairam, outros, teimosamente, continuam a subsistir.
Passados muitos anos, ainda continua a existir o conceito de uma classe dominante e burocrata no seio do radioamadorismo nacional, ainda com muitos tiques totalitários e discriminatórios de tudo o que seja inovador e moderno. Ainda que pareça estranho e desusado, esta teoria ainda é defendida e fomentada, por meia dúzia de velhos radioamadores considerados os gurus do radioamadorísmo nacional, cujos métodos de “fazer rádio” são, infelizmente, apoiados, defendidos e seguidos por um rebanho de parvos úteis e frustrados que não tendo qualquer tipo de capacidade moral ou intelectual, necessitam da colarem ao “sr. eng.º CT qualquer coisa” para sobreviver entre os demais. É a tal mentalidade provinciana, patriarcal e subserviente que sustenta a imagem podre e decrépita de um radioamadorismo que se vai esvaziando. É a voz do dono a funcionar…
As primeiras “vítimas” de esta fórmula, foram os cebeístas que fizeram exame para radioamador e ao darem os primeiros passos nas “outras”, tiveram de fazer uma escolha: aceitar a fórmula, beijando a mão ao padrinho e jurando fidelidade até à morte; os que não aceitassem o juramento e repudiassem o ósculo, eram postos no índex e expulsos do “paraíso” radioamadorístico local; a terceira via era a mais saudável: não se envolverem com o sistema e escolher os seus correspondentes. Mesmo assim, apareciam muitas e desagradáveis surpresas…

Actualmente, existe um verdadeiro mal-estar e desilusão por parte dos que são obrigados a concluir que, já não existem diferenças de comportamento em frequência, entre os que utilizam a Banda do Cidadão ou as frequências atribuídas ao serviço de amador. É esta a verdade, apesar que alguns não a quererem admitir.
Escorraçavam os cebeístas e condenavam-nos por empregarem, em QSO’s, alguns termos importados do CB como de um crime se tratasse. Muitos destes inquisidores, esqueciam-se que tinham, arrogantemente, abandonado “a porcaria do CB” (como muitas vezes ouvi), para ingressar nas “outras”. “Aquilo ali, é que é rádio”, afirmavam em tom de desprezo e desdenho para com os antigos “colegas” da Banda do Cidadão.
Por muitas voltas que tudo isto possa dar, esta mentalidade há-se sempre persistir bem como as fricções do costume. Mas a verdade é que o deslumbramento e o empolgamento de alguém se tornar radioamador, começa a ruir e deixará de existir quando os candidatos estiverem na posse do seu verdadeiro e real estado de saúde mental e bem-estar intelectual.
A visão que alguém poderia ter de alcançar tal “estatuto”, e devido a tal posição pensar que poderia subir um degrau na escala social do burgo onde habita, pode começar a esfumar-se. Actualmente, com a linguagem porca e o comportamento decadente dos utilizadores de algumas frequências atribuídas ao serviço de amador, já se torna proibitivo demonstrar à família e aos amigos, que o radioamadorísmo é um hobby sério, limpo, culto e tecnicamente evoluído. A vaidade e presunção destas mentalidades mesquinhas podem estar em risco, mas as suas tendências para atitudes inquisitórias e divisionistas hão-de continuar contra quem não bebe da mesma malga, não come da mesma broa e não diz amém a cada “posta de pescada” que produz (para não dizer outra coisa).

A consequência de este estado de coisas gerou um fenómeno interessante. Os que, há alguns anos, voltaram as costas ao CB e foram para “as outras”, actualmente regressaram à Banda do Cidadão e, pasme-se, até operam o PMR446. Comentários? Nenhuns. É sintomático.
Pegando na vergonhosa bandalheira existente no espectro radioeléctrico amadorístico português, na total ausência de vigilância e completo abandono e desinteresse da entidade reguladora (ANACOM) por este degradante estado de coisas, o que nos resta? Total anarquia, ausência de autoridade e a bandalheira à portuguesa…
Qualquer um que tenha possibilidade de adquirir um transceptor e possua os conhecimentos básicos de como operá-lo, pode utilizar livremente bandas militares, aeronáuticas civis, satélites e outras coisas mais para qualquer tipo de “serviço” ou passatempo. NINGUÉM se preocupa ou intervém…A pirataria é um facto consumado e "tolerado" pelas entidades oficiais. Temos uma Autoridade Nacional de Comunicações, sem autoridade, sem vontade para aplicar a lei, sem poder interventivo junto dos infractores, sem critérios e sem soluções. Somos um país na banca rota e isento de valores.
Venha o futebol, o Cristiano Ronaldo, as marchas populares, as sardinhas assadas, vinho tinto martelado e muitos arraiais para esquecer que vivemos numa democracia sustentada por corruptos, vigaristas, mentirosos, preguiçosos e ladrões. Hoje, já nada me espanta. Tanto no radioamadorismo como no dia-a-dia duro para quem tem de lutar para sobreviver e encher a pança a esta cáfila de oportunistas, donos desta república que se encontra em pé de igualdade com as Latino-Americanas e Africanas.

Meu caro Daniel, obrigado pela tua coragem e frontalidade. É o que falta a muitos cebeístas e radioamadores que muito falam, mas quando é chegada a hora de dar a cara e assumir posições e responsabilidade, falta-lhes aquilo que deviam ter lá no sítio, mas não têm, apesar de se ver o enchumaço.

Luís Forra
13 de Junho de 2010


Haja paciência!

Colegas Radioamadores:

Como Radioamador que sou , escrevo este pequeno desabafo para com aqueles que partilham a minha opinião, e para outros tantos que provavelmente nem irão entender o que direi nestas palavras. Sou Radioamador há vários anos, não há tantos assim que me permitam ter um indicativo começado pelas primeiras letras do alfabeto.
Sou “do tempo” da Banda do Cidadão, tendo “migrado” para as bandas de Amador não por convicção, mas por “arrasto”. Não me sinto frustrado por ter “passado” para as bandas de Amador, mas confesso um pequeno arrependimento por o ter feito, iludido por uma mão-cheia de colegas que me fizeram acreditar que estas bandas eram “diferentes”.
Não tenho formação académica superior, nem sou filho de doutores , mas tenho de dizer que acho triste e mesmo ridícula a forma como alguns Amadores falam no “éter” e já agora a forma como escrevem na Internet. Esta forma de estar deixa muito a desejar quando tanto se fala na “dignificação do hobby”!

Somos Amadores e não passaremos disso…somos faladores e maus… somos colegas, mas só na “vertical”, somos organizados, mas só no papel… Quando há alguns anos eu comecei a pensar e ficar cada vez mais com a convicção que a maioria dos Radioamadores não prestavam, sendo uma percentagem elevada de ignorantes, uma outra de conflituosos e arruaceiros e só um pedacinho deles com interesse…pelos vistos não me enganei…

Não consigo compreender que, um colega que “suba” à frequência e diga “deltas” em vez de “desculpas”, seja logo criticado, quase que chacinado, muitas das vezes por colegas que fazem bem pior, limitando-se a criticar e cuspir no microfone e que depois vão para as “directas” com piadinhas sem propósito, algumas delas mesmo obscenas e vão também para os sites de Radioamadorismo dar pontapés atrás de pontapés no Português!
Será que o Radioamador, enquanto pessoa que investiga e desenvolve a técnica, não é capaz de desenvolver a sua capacidade pessoal, intelecto e também uma correcta conduta e forma de estar? Onde está o nosso brio? Onde está a dignificação do nosso hobby e das pessoas? Onde está a diferença entre Cebeísta e Radioamador? Afinal quem não presta não presta, seja numa banda, seja na outra, seja na estrada seja na rua, seja no “éter”… vai de mal a pior…

Vergonha a minha quando há pouco tempo sugeri a um potencial interessado nas radiocomunicações amadoras, que visitasse o site “radioamadores.net” para se começar a ambientar e ter algum contacto com aquilo que é o Radioamadorismo…e passados alguns dias, sou surpreendido com a seguinte pergunta da sua parte : “Daniel, mas será que estas pessoas não sabem escrever? Como vão saber falar? Será que faço bem em começar este hobby?”.
Pior que isso, quando fizemos um pouco de escuta nos repetidores nacionais de VHF e UHF, o que ouvimos? Colegas a tratarem-se mal, ameaços físicos, asneiras, música, portadoras…enfim…de tudo um pouco desta chafurdice que começa a ser cada vez mais “o pão-nosso de cada dia”…Não me restou outra alternativa senão baixar a cabeça e dizer…“pois…infelizmente é assim”…
Por estas e por outras, não consigo reconhecer qualquer legitimidade a uma grande maioria daqueles que tanto criticam nas bandas e quando pegam no microfone, na caneta ou no teclado, são uma verdadeira vergonha para todos nós…

Cada vez mais é para minha tristeza quando vejo que grande parte dos Radioamadores não passam de colegas sem formação, sem informação, sem interesse, sem valores, arruaceiros e conflituosos, onde o único lugar que encontraram e foram aceites, é no “éter”, atrás de um microfone…aí sim, nem que não saibam falar e estar, alguém os terá de ouvir!
Mais uma vez digo…não sou filho de doutores, não tenho formação académica superior, mas faço um esforço para poder dar uma boa imagem do Radioamadorismo e dos Radioamadores.

Não quero de alguma forma com este artigo, ferir seja quem for, até porque nem todos podem ser aquilo que desejariam, mas tenho a certeza que a maioria dos colegas podia ser um pouco melhor, tanto na escrita como em frequência. Vejo folhas “log” de concursos a serem entregues em pedaços de papel, escritas a vermelho, incompletas…ouço QSO’s sem qualquer preocupação por quem está a ouvir, afastando os que se pretendem juntar ao hobby inclusivamente as senhoras e crianças.

Infelizmente, quase que não me é possível trazer o rádio de Amador ligado na viatura quando a minha família está presente…pois tenho medo de a qualquer momento ser presenteado com uma bojarda qualquer de um javardo com um microfone…

Uma grande parte das conversas, têm sempre de ter uma pitada de machismo ou “bitaites” sobre esta ou aquela…Por vezes alguns QSO’s parecem servir até para uma grande parte frustrados provar a sua virilidade através de provocações e comentários menos próprios…Serão a maioria dos Radioamadores uma cambada de depravados, doentes mentais e delinquentes? Ouvem-se constantemente ameaços de pancada, provocações, portadoras intencionais… seremos nós uma classe de arruaceiros?

É raríssimo encontrar um QSO de qualidade, com tema, sem provocações, sem falar mal de fulano ou sicrano, sem falar da minissaia da menina que vai a passar, sem dizer que está um lindo sol e que com o calor as coisas começam-se a “descascar”, e o que é bom é para se ver.

Após uma pesquisa mais cuidada na Secção de “Trocas e Vendas” do conhecido Site “radioamadores.net”, vejo que uma grande maioria dos Radioamadores, além de não se saberem comportar em frequência, não passam também de analfabetos imbecis, camuflados com indicativos rádio que nem sequer escrever sabem. Os “bons” radioamadores costumam dizer… “se não sabem… não falem”… agora digo eu… “se não sabem, não escrevam”… Se são capazes de pedir a um colega para ajudar a afinar uma antena, uma cavidade, seja o que for, peçam também a alguém para corrigir os textos antes de os publicarem. Pior que tudo, até na Internet há picardias entre Radioamadores!

Por todas estas e mais algumas, tenho cada vez mais de dar o máximo valor e mostrar o meu reconhecimentoàqueles que continuam a lutar contra esta maré poluída, que formam bons Radioamadores e que até incentivam crianças a ingressar neste hobby, que se não fosse esta poluição de pessoas mesquinhas e sem interesse, seria uma forma agradável de partilhar, aprender e desenvolver qualquer coisa de bom, mas, que para mim e no actual panorama, não passa em grande parte de um sítio onde os piores se encontrar e chafurdam na mesma pia.

Para mim, o que foi entusiasmo, passou a desinteresse, revolta, passando agora despercebido. Falo no rádio porque gosto de comunicar, mas sem o interesse dos “velhos tempos”, onde os operadores de rádio eram pessoas educadas, cordiais, correctas, partilhando apenas um prazer… o de comunicar.

O Radioamadorismo é cada vez mais um negócio e não um passatempo…é cada vez mais uma forma de exteriorizar frustrações pessoais e não de as colmatar, uma forma de desabafo javardo e não de troca de opiniões…muitas vezes até, uma forma de enaltecer o ego de cada um, e não de se enriquecerem do ponto de vista intelectual, enquanto seres pensantes que são…

As memórias das bandas de Amador nos meus equipamentos têm mais “skips” que outra coisa… porque não quero passar pela vergonha de parar numa dessas frequências quando vou com alguém ao meu lado… este é para mim o panorama triste que temos… claro que alguns dirão que estarei a ser pessimista ou mesmo derrotista, mas não me resta outra alternativa senão o QRT quase sistemático.
Àqueles que me ajudaram, me apoiaram, ensinaram, entusiasmaram e deram longas horas de boas
comunicações rádio, que me ajudaram a passar mais depressa uma viagem ou a preencher um momento de tédio… o meu bem-haja… aos que estragam, conspurcam e destroem as bandas de comunicações amadoras, às entidades oficiais que mais parecem estar a ser guiadas por interesses, não nos passando o mínimo de “cavaco”, reservando o seu tempo de operação e actuação para as licenças milionárias de telefonia dos operadores móveis, não posso deixar de sentir a minha legítima revolta e pesar por tão grande incompetência e irresponsabilidade.

Podemos mudar o significado de algumas siglas, podendo quem sabe “CT” passar a ter o significado de“Cambada de Terroristas” ou “Comunicações da Treta”.

Cumprimentos respeitosos

Daniel Leitão
CT2GXZ
Micróbio
joao.daniel.leitao@gmail.com

 

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