|
DE CONSCIÊNCIA TRANQUILA
Ao abrigo do Decreto-Lei nº. 47/2000 de 24 de Março, Capítulo IV, Artigo 16º, Ponto 1, no dia 31 de Dezembro do corrente ano de 2006, caducam definitivamente as licenças de estação CB, funcionando só em FM e/ou em FM e AM (SSB), com a potência aparente radiada de 4 e 12 W, respectivamente.
Esta nova situação origina o desaparecimento dos indicativos oficiais (CQx xxxx) e os transceptores da Banda do Cidadão “deslicenciados” passam à clandestinidade, não devendo ser utilizados. Se tal acontecer e a fiscalização da ANACOM detectar a infracção, haverá lugar à instauração de um auto de notícia com a apreensão do equipamento e aplicação da respectiva coima, que em casos destes é bastante pesada.
Consumar-se-á o inevitável.
Resta a consciência tranquila do antigo Presidente da Direcção Liga CB que, dentro do associativismo cebeísta desta república de corruptos e aldrabões, lutou, como pôde e sabia, mobilizando e tentando unir pessoas e vontades, para que os utilizadores da Banda do Cidadão tivessem uma palavra a dizer, à entidade da tutela, sobre o assunto, pois até podia haver uma alternativa quanto aos equipamentos condenados a ficarem calados, como irá acontecer.
A ideia seria a possibilidade de cada um de nós poder recorrer a um técnico competente para que o mesmo modificasse o equipamento, alterando a sua PAR (potência aparente radiada) de acordo com os requerimentos essenciais da directiva 1999/5/CE, estando conforme com as Normas Europeias: ETS 300 135 (1991), EN 300 135-2 (2000), ETS 300 433 (1995) e EN 300 433-2 (2000).
Após a referida modificação, solicitava-se ao então ICP a respectiva homologação.
Se tal fosse aceite pelo então ICP, evitar-se-ia o desperdício de “deitar pela porta fora” um bom transceptor de CB e os gastos da modificação técnica do equipamento e sua homologação eram mínimos, comparado com o custo da aquisição de um novo.
Além disso, há valor de estimação e uma ligação sentimental a um objecto que começou a fazer parte da nossa casa ou da nossa viatura, fazendo-nos companhia há muitos anos, proporcionando-nos horas inesquecíveis de prazer, contentamento e desagrado, por vezes. Mas isso é o tempero da vida…
Não podemos esquecer que, se esta ideia passasse à prática, todos nós pouparíamos algum dinheiro, mas iria causar um grande problema comercial aos fabricantes e vendedores deste artigo, pois as vendas de transceptores novos para a Banda do Cidadão não atingiriam as metas estipuladas e a máquina da corrupção não teria “combustível” suficiente para funcionar, o que provocaria o emagrecimento de algumas barrigas do poder.
A consciência está tranquila, mas a amargura e frustração é mais que muita, porque passados seis anos, desde que a Lei foi publicada, está tudo na mesma. E continuará a estar.
Apesar de haver muito poucos dirigentes com empenho e dinamismo, o associativismo cebeísta nacional não funciona em termos eficazes e objectivos, porque a esmagadora maioria dos associados pertencentes às organizações cebeístas activas, estão completamente esvaziados de vontade para trabalhar, empenhadamente, com os órgãos sociais.
Para almoçaradas, jantaradas, excursões, contestes, activações, “caçadas” à portadora, e outras “actividades” do género ainda vai aparecendo alguém. Mas quando a associação pede trabalho e alguns sacrifícios aos seus associados para que determinada acção concreta e objectiva tenha sucesso, começam a surgir as “dificuldades”. As mais frequentes são a falta de tempo, mesmo nas horas disponíveis.
Em termos reais, a verdade é esta: a nível nacional, há duas associações legalizadas, uma semi-legalizada e outra por legalizar, que ainda vão desenvolvendo alguma actividade mas em termos lúdicos. Quando, aos seus associados, são requeridas horas para reuniões, elaboração de relatórios, consulta de documentação e/ou deslocações, para se apresentar uma tese séria e consistente num Congresso com pés e cabeça, e não em encontro de macanudos onde se dizem umas baboseiras e se bebem uns copos, ninguém está disponível.
Com este panorama, o que importam as leis contra ou favor da Banda do Cidadão? O que se tem feito para contrariar uma má lei? Nada!
Então que se acabe com a hipocrisia de muita gente que anda por aí a cantar aos sete ventos que defendem e dignificam a Banda do Cidadão. É mentira!
Para se dignificar e defender seja o que for, é necessário lutar muito, enfrentando dificuldades e privações. Os sacrifícios estão sempre presentes quando se é militante de uma ideia com amor, privando-nos por vezes de cumprir certas obrigações o que pode provocar estragos irrecuperáveis na vida de quem tem e acredita nos seus ideais.
Falar doce e ter um comportamento digno em frequência contribui para a dignificação da Banda do Cidadão. Mas não chega. É muito curto! É necessário, mas não é suficiente.
Quando, um dia, deixar de haver legislação da Banda do Cidadão em Portugal e o CB se transformar num PMR 446, onde, por Decreto-Lei, tudo é permitido, já não será necessário defender e dignificar uma coisa radiofónica que não faz sentido. Nessa altura, estaremos todos mergulhados, até ao pescoço, na fossa séptica do espectro radioeléctrico português.
Por cá, continuaremos a ser iguais as nós próprios, defendendo e dignificando a Banda do Cidadão em todos os sentidos. Temos provas dadas e continuaremos a provar com se faz.
O resto é QRM.
Luís Forra
Estação CB “Dakota Bravo”
23 de Outubro de 2006 |