Qual a diferença entre CB e o "radioamadorismo" ?

Vamos responder a um e-mail recebido do amigo Ricardo Saramago, abaixo transcrito e também a todos os que, ao longo do tempo, nos têm feito centenas de vezes a mesma pergunta:

"Qual a diferença entre CB e o "radioamadorismo" ?

Olá,
Este e-mail tem dois objectivos:

O primeiro é de lhe dar os parabéns pela sua página, pois além de estar bastante simples, tem muito interesse e conteúdo.
O segundo objectivo é de lhe pedir uma possível ajuda.
O meu nome é Ricardo Saramago e sou um jovem de 19 anos que alem de estudar sou também um apaixonado pelas telecomunicações.
Apesar de estar "ligado" á Internet e estar "por dentro" das novas tecnologias de comunicação, nunca me aproximei muito do rádio.
Este súbito interesse apareceu durante a semana passada, e perante bastantes buscas de informação na net ainda só consegui perceber ( e mal ) a diferença entre CB e Radio Amadorismo.
Ao ver a sua página e ler os seus textos ( que devia de actualizar, principalmente os Artigos de Opinião, pois quero saber como acaba a história :) ), o Sr. pareceu-me ser uma pessoa com bastante experiência no assunto e é precisamente um pouco dessa experiência que lhe vou pedir.
O facto é que me gostava de iniciar no mundo do rádio CB, mas para isso preciso que alguém me indique qual o melhor material a comprar, quais os preços e algumas ( MUITAS ) dicas pois não percebo nada de radio CB.
Fica aqui o meu pedido de ajuda...
Obrigado,
Ricardo Saramago

Qual a diferença entre CB e o Rádio Amadorismo?
(Opinião pessoal) - Estação "Dakota Bravo"

Qual a diferença entre CB e o Rádio Amadorismo?
Uma pergunta feita pelo amigo Ricardo Saramago e por muitas pessoas querendo entrar no mundo do radioamadorismo, ou por pura curiosidade.
Na sua essência, não há rigorosamente nenhuma diferença.
Ora então vejamos:
Dicionário da Língua Portuguesa, Porto Editora, J. Almeida Costa e A. Sampaio e Melo

Amador - o que exerce qualquer arte, desporto ou ofício por gosto e não por paga.
Amadorismo - estado do indivíduo que cultiva uma arte ou um desporto como amador.
Desporto - exercício físico regulado por normas mais ou menos definidas, praticado individualmente ou em grupo, sem objectivos utilitários; desporto; divertimento; desenfado; recreio.
Divertimento - acto ou efeito de divertir; recreação; distracção; entretenimento.
Qual a conclusão a que chegamos quando analisamos o atrás referido?
Apresenta-se o seguinte silogismo:
Premissas:
1 . Amador é o que exerce qualquer desporto por gosto e não por paga
2 . Desporto é um divertimento e consequentemente é um entretenimento.
Conclusão:
O radioamador é o que exerce, por gosto e não por paga, o divertimento ou entretenimento da rádio, independente da frequência que opera.
Tecnicamente está correcto, pois a função e os objectivos de quem exerce o divertimento ou entretenimento pelas frequências do rádio CB, é precisamente o mesmo de quem o faz por outras frequências de rádio.
Na prática, a questão não é tão simplista ou tão linear como parece. As diferenças que existem, podem ser grandes, pequenas, muito poucas ou nenhumas, conforme a concepção que as pessoas têm de radioamadorismo.
Exponho uma situação como exemplo:
A função e os objectivos de um DX, (contacto à longa distância) por exemplo para o Brasil, na frequência de 27.405 MHz (Banda dos 11 metros – Banda do Cidadão), não serão os mesmos que um DX na frequência de 14.250 MHz (Banda dos 20 metros – Banda de radioamador)?
Não estaremos perante o mesmo quadro ou situação?
Vejamos:
Na Banda dos 11 metros o modo de fazer a chamada a longa distância pode ser precisamente o mesmo de quem o faz nos 20 metros – só o indicativo de estação muda, obviamente...
Na Banda dos 11 metros o modo de informar o nosso correspondente das condições de chegada da sua emissão pode ser precisamente o mesmo de quem o faz nos 20 metros...
Na Banda dos 11 metros o tema de QSO pode ser precisamente o mesmo de quem o faz nos 20 metros...
Logicamente que aqui há um diferença: a frequência. Uma é 27.405 MHz, a outra, 14.250 MHz.
Os que operam os 20 metros, só podem operar os 11 metros se para tal, estiverem licenciados e vice-versa.
E é nesta diferença que para alguns, reside toda a questão do que é ser radioamador ou cebeísta.
Apesar de pensar que ser cebeísta é uma forma de radioamadorismo, e considerar que as diferenças entre o CB e o dito radioamadorismo não existem na sua essência, admito que há certos formalismos na forma de operar certas frequências ditas de amador.
Todos nós sabemos que, quem quiser criar as diferenças entre uma coisa e outra, tem um mundo de coisas, que de uma forma eficaz, demonstra aos mais distraídos ou aos leigos na matéria, que o CB não presta e o radioamadorismo é que é bom.
Assisti em 1978, quando a Banda do Cidadão foi legalizada e a sua regulamentação publicada no Diário da República, ao fundamentalismo radiofónico de certos radioamadores saudosistas das mordomias do antigamente, quando a "lei" lhes dava a faculdade de porem, disporem e escolherem quem podia ser ou não radioamador em Portugal.
Esses fundamentalistas, que ainda existem, não se queriam convencer nem admitir que, qualquer cidadão tem a possibilidade e o privilégio de poder contactar via rádio CB (que é onda curta) qualquer país do mundo.
Porquê?
Por causa das elites, das classes sociais e algum poder económico.
Antes do 25 de Abril, ser-se radioamador era um privilégio e em certos sítios, era uma forma de promoção social.
Mediante a entrega, na Rede dos Emissores Portugueses, da documentação requerida por lei para se habilitar a exame, obtendo assim uma carta de radioamador se ficasse aprovado, a vida do candidato era passada a pente fino pela policia política.
Logo à partida, a Democracia era "coisa" que não se praticava. Era-se obrigado a ser sócio de uma Associação de radioamadores (Rede dos Emissores Portugueses – REP), mesmo contra a vontade do candidato.
Pelo atrás exposto, havia logo à partida uma forte selecção. Ou se estava inserido, muito próximo ou conotado com as elites já estabelecidas, ou se conhecia algum radioamador para que o processo de candidatura fosse aprovado.
Se, se conhecesse e se estivesse em estado de graça com o Sr. Major, o Sr. Engenheiro, o Sr. Professor, o Sr. Doutor, etc., que eram radioamadores, a "coisa" estava garantida.
A componente electrotécnica, electrónica e a técnica radioeléctrica era fundamental e na maior parte dos casos, sobrepunha-se à outra componente tão ou mais importante do radioamadorismo que é comunicar.
O tema primário e principal dos QSO’s era somente a técnica. Quem não tivesse esse hábito, se não se sentisse à-vontade na matéria ou não tivesse conhecimentos suficientes de técnica para entrar num QSO, era pura e simplesmente posto à parte. Era considerado "cuspidor de microfones"
Os lideres de opinião comandavam as elites e geralmente pertenciam às cúpulas da REP. Ser possuidor de uma estação emissora-receptora de onda curta ou VHF, era na altura indicador de certos poderes a considerar:
Poder político.
Não era qualquer um que, antes do 25 de Abril, podia ter montado no telhado, no quintal ou na sua propriedade, uma bateria de antenas para receber e emitir.
O poder estabelecido tinha que estar bem informado quem era a pessoa, estar de acordo e autorizar a actividade. Obviamente, a pessoa estava, de uma certa maneira, conotada com o poder; ou não estando conotado com o poder, tinha que não ser oposicionista confesso ou declarado.
Eram nos grandes centros populacionais e especialmente em Lisboa e no Porto, que esse cunho de conotação política se esbatia mais, não se tornando tão evidente como no interior do país.
Com isto, não estou a dizer que todos os radioamadores antes do 25 de Abril estavam comprometidos com o regime político da altura.
O que eu quero afirmar é que, quem não estava com o regime, pelo menos e aparentemente não o contestava.
Poder económico
Ser possuidor de uma estação de radioamador de onda curta ou VHF, com as respectivas antenas direccionais montadas numa ou mais torres e alguns dipolos, era, para os vizinhos e amigos, uma demonstração de certo poder económico, ou pelo menos de uma vida desafogada de classe média.
Quem, nesses tempos, tinha possibilidades económicas para gastar umas centenas de contos na aquisição e montagem de uma estação de amador?
Poder da informação
Ser radioamador era ter a possibilidade de escutar, praticamente, todas as comunicações rádio existentes, tanto civis, policiais e militares. Era ter acesso a certas informações que o mortal comum não tinha.
Aliás, um bom radioamador, é aquele que anda bem informado e actualizado.
Haveria ainda muita coisa a dizer, mas para terminar e resumindo, para mim, ser radioamador é: utilizar qualquer faixa de frequência, dentro da legalidade, com correcção, respeito e dignidade, cumprindo as leis em vigor e não subvertendo o ideal humanitário onde a rádio tem um papel decisivo na defesa de bens e vidas humanas e não só.
Isto aplica-se a cebeístas, a radioamadores, a cebeístas-radioamadores, a radioamadores-cebeístas, etc., etc., etc..
Um abraço fraterno e viva a rádio.

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As diferenças entre radioamadorismo e CB

O assunto deste e-mail tem mais a ver com a SUA opinião pessoal sobre as diferenças entre radioamadorismo e CB.
No fundo concordo com a primeira parte em que o amigo Luís diz que afinal todos queremos é fazer contactos, foi por querer fazer contactos que também fui para o radioamadorismo. Não ponho em causa as coisas que se passaram no passado e estou consciente que ser radioamador foi uma questão de estrato social, o que acho é que o amigo Luís ficou-se pelo passado.
Hoje em dia, as coisas já não se passam assim. Quem quiser ser radioamador apenas tem que provar que conhece a legislação e um pouco de técnicas; não tem de responder perante ninguém a não ser o ICP.
Os jogos de bastidores ainda continuam presentes nalgumas associações, que não vou referir o nome, mas os esclarecidos sabem quem são, assim acho que a opinião expressa no seu artigo de opinião está muito voltada para o passado.
Ora vejamos: Poder político: hoje qualquer um pode montar uma estacão de amador, para isso apenas basta o BI e o numero de contribuinte e dirigir-se ao ICP.
Poder económico:
para montar uma estacão de amador não é preciso gastar muito mais que numa estacão CB e hoje em dia na era das telecomunicações onde toda a gente tem um "TELELE", ter um radio e umas antenas em casa não é nada que manifeste poder económico audiovisuais, dos media e da internet a informação que os radioamadores têm a mais que o comum dos mortais, é de caracter técnico e na sua maioria respeitante ao próprio hobbie.
Sim, porque no fundo o radioamadorismo, tal como o CB, é um hobbie cujo objectivo é comunicar e também aprender algo com isso Para terminar gostaria de salientar que embora ainda haja algumas ovelhas ranhosas as coisas vão melhorando e uma nova geração de gente sem preconceitos e sem interesses duvidosos, vai aparecendo pelo radioamadorismo.
Um forte abraço e se quiser publicar algo do que escrevi esteja à vontade, não me escondo atrás de ninguém e respondo inteiramente pelo que digo e escrevo.

Buraco Negro - Lopes

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Janeiro de 1998

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